No Dia do Aviador cultivamos a
memória de uma das nossas mais valiosas figuras históricas - Alberto Santos
Dumont, um brasileiro reconhecido e condecorado em vários países. Este gênio
criativo nasceu em 20 de julho de 1873, em Palmira, hoje chamada Santos Dumont,
em Minas Gerais. Ele viu pela primeira vez um balão aerostático numa feira, na
cidade de São Paulo, em 1888. Ali mesmo sentiu a sensação de subir com um balão
às alturas, que somente aos pássaros era possível.
Depois da morte de seu pai, em 30
de agosto de 1892, mudou-se para Paris, na França. Correu atrás dos seus sonhos
e conseguiu em 22 de março de 1898, em sua primeira ascensão aerostática. Decidido
a aperfeiçoar seus balões, fez em julho sua primeira ascensão livre com o balão
de nome "Brasil", que mandou construir para seu uso pessoal. No mesmo
ano, ainda em 18 de setembro, realizou a primeira experiência com o seu balão
dirigível nº 01, sendo a primeira vez que um motor à explosão, adaptado a um
veículo aéreo, funcionava no ar.
Na primeira tentativa de
decolagem, chocou-se contra as árvores, pois decolou a favor do vento, conforme
foi convencido pelas pessoas que assistiam. Dois dias depois, a 20 de setembro de 1898,
decolou contra o vento, conforme sua concepção. Para espanto da assistência,
pela primeira vez na história da humanidade, um balão evolui no espaço,
propulsionado por um motor a petróleo. Após este evento, aperfeiçoou, sua
criação nos dirigíveis 2 e 3.
Até o balão dirigível nº 14,
houve uma infinidade de experiências diversas que o deixaram famoso. A sua
hélice e o motor serviram para as primeiras experiências com o aeroplano nº 14
Bis. Entre os dias 25 de julho e 23 de outubro de 1898, no Campo de Bagatelle,
em Paris, voou perante a Comissão Fiscalizadora do Aeroclube da França,
ganhando a taça ARCH-DEACON, por realizar o primeiro vôo de aparelho mais
pesado que o ar. Posteriormente, ele criou o nº 16, usando um motor. Santos
Dumont subvencionava suas atividades aeronáuticas com seu próprio dinheiro. Em
1901, encher um balão de 620 metros cúbicos com hidrogênio custava-lhe
aproximadamente US$ 500,00.
Mais tarde foi transformado em
biplano. No nº 18, a principal experiência foi um deslizador aquático e a
tentativa foi demonstrada no Rio Sena. Ele estava inclinado a crer que a
verdadeira função dos veículos aéreos consistiria no transporte rápido de
passageiros, correspondências e cargas. Santos Dumont tentou levar o mundo a
partilhar de suas
idéias em vão.
Os homens mais eminentes não as
aceitavam e a imprensa, noticiando os seus desastres, apelidava-o de
"Santos Desmonta". Em 1902, entretanto, o Príncipe de Mônaco se
ofereceu para construir um hangar, caso Santos Dumont quisesse levar os seus
dirigíveis para Monte Carlo, durante o inverno. Santos Dumont aceitou. O jovem
brasileiro, com o seu ar afável e negligente, era visto em jantares com o
Príncipe de Mônaco e em ceias com os grandes banqueiros. No mar, as embarcações
faziam cortejo em sua honra. Célebres corredores de automóvel aceleravam os
seus carros na estrada do litoral, chegando a ultrapassar 60 quilômetros por
hora, para acompanhar o seu vôo. Depois de muitas experiências com aparelhos
que eram metade avião, metade balão, Santos Dumont galgou novos êxitos. Em 1906
deu ao mundo a primeira demonstração pública de vôo num aparelho "mais
pesado que o ar". (Os irmãos Wright só vieram a voar publicamente em
1908.) Criou depois os primeiros monoplanos bem sucedidos, construídos de bambu
e seda japonesa que não pesavam, incluindo motor e aviador, mais que 110
quilos, os Libélulas. Em 1909, resvalando pelas cercas e pelas copas das
árvores na sua segunda Libélula, bateu um novo recorde, ao alcançar 95
quilômetros num percurso de oito quilômetros. Foi seu último triunfo.
Já em 1909, a aviação começava a
escapar das mãos dos inventores para as dos engenheiros e mecânicos. Nos
hangares, Santos Dumont encontrava homens mal-educados. Os homens da aviação só
pensavam em corridas e pequenos concursos para ganhar prêmios. Para um homem
com a educação requintada e os ideais de Santos Dumont, isso era intolerável.
E, por este motivo, retirou-se da arena. Como ganhador do prêmio Nobel, Santos
Dumont acreditava que as suas invenções haviam de tornar tão terrível a guerra,
que os homens não pensariam mais nela. Tal convicção sofreu um rude golpe
quando foi declarada a Primeira Grande
Guerra Mundial. O aeronauta isolou-se na sua casa, nos arredores de Paris, onde
sofreu acessos de neurastenia, atribuindo a si a responsabilidade pelo
conflito. Nos anos que se seguiram ao Armistício, cada desastre de aviação
avivava a sua crença de que a dádiva que fizera ao mundo era, na realidade, uma
invenção infernal. Voltando de navio para o Brasil, em 1928, ele presenciou um
avião da Condor caindo no mar, matando seus tripulantes. Santos Dumont assistiu
aos funerais e, depois, encerrou-se por vários dias num quarto de hotel.
Quando aconteceu o desastre do
dirigível R.101, tentou se suicidar. Desde então, os parentes e amigos passaram
a exercer estreita vigilância à sua volta. Durante a Revolução Paulista de
1932, Santos Dumont via passar, pelos céus de sua terra natal, a máquina
concebida por ele, sendo utilizada como poderoso instrumento de destruição. Aquele
era o mesmo tipo de aeroplano que, um dia, dera a triunfante volta na Torre
Eiffel! Um dos sobrinhos que sempre o acompanhava deixou-o sozinho por alguns
momentos. Ao voltar, não mais o encontrou com vida.
Santos Dumont morreu no dia 23 de
julho de 1932, no Guarujá. Desistiu da vida com a mágoa de ver seu invento,
criado para servir, sendo usado para destruir o homem. Seu coração se encontra
no salão nobre da Academia da Força Aérea, em Pirassununga, em artístico
escrínio de ouro, para que os oficiais que lá se formam possam sentir sua
nobreza e seu pulsar indefinidamente, nos corações de todos os brasileiros.
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